18 setembro, 2018

Linus De Paoli - Coluna 03: Coisas que aprendi na Alemanha (sobre cerveja)


Antes de me mudar para Colônia, na Alemanha em 2015, já havia feito várias visitas ao país em diferentes ocasiões, tanto a lazer como a trabalho. E em cada visita, aprendi um pouco sobre a relação do alemão com a cerveja, mas nada como morar 3 anos e fazer amigos para entender um pouco melhor como funciona essa relação.

Acho que a primeira realização é que em se falando de cerveja, existe uma diferença clara entre a Bavária e o resto da Alemanha. Nesses 3 anos, só fui 2 vezes para Bavária, então falo do pouco que vi e do que converso com as pessoas aqui em Colônia. E lá, por sua história e por ser berço da maioria dos estilos de Lagers (Dunkel, Helles, Märzen, Festbier, Weizen, Bock, etc.), aparentemente as pessoas estão mais acostumadas com diferentes estilos de cerveja coexistindo (principalmente os tradicionais). No restante da Alemanha, salvo algumas exceções onde estilos regionais ainda existem, predomina o estilo German Pils.


Fora da Bavária, não espere entrar em uma Brauhaus, bar ou restaurante, e encontrar uma carta de cervejas com várias opções de estilo, no máximo terão 4 tipos de cerveja: Pils, Weizen, Radler e Pils sem álcool. As exceções como disse acima, são cidades como Colônia e Düsseldorf onde o estilo regional (Kölsch ou Alt) predominam. Talvez isso seja mais fácil de entender quando passamos a entender que o alemão (ou pelo menos a impressão que tenho) é um povo conservador e dificilmente experimenta coisas diferentes. Geralmente uma pessoa que cresceu tomando determinado tipo de cerveja, seja ele Pils, Kölsch, Alt ou Helles, dificilmente irá experimentar outro estilo.

Esse pode ser um dos motivos porque o movimento de Craft beers esteja engatinhando por aqui (mas pretendo falar das minhas impressões sobre esse nicho de mercado depois). E não ponha a culpa na Reinheitsgebot porque também, fora da Bavária, ninguém liga muito para ela. Exemplo disso? É muito comum o alemão tomar cerveja misturada com refrigerante (Kölsch-Cola, Radler, etc.) ou até com suco de frutas (a popular Bananenweizen, sim acertou, Weizen com suco de banana).


Mas acho que o mais importante que aprendi dessa relação única de um povo com a cerveja, é que este é um meio, e não o fim. Quando um grupo de amigos se encontra, eles bebem cerveja, eles não se encontram para beber cerveja. As pessoas se encontram para desfrutar da presença umas das outras. Por isso talvez uma das características mais marcantes dos estilos de cerveja bávaros e alemães, seja a alta drinkability. Afinal quando você quer passar um bom momento com amigos e familiares, você não quer beber somente um sniffer de RIS envelhecida em carvalho ou aquela Imperial IPA super amarga. Nesses momentos, você quer conversar sobre futebol, política, contar piada tomando 2 ou 3 (ou 4 dependendo do fígado) litros do seu estilo favorito, sem pensar muito nele. E foi quando entendi isso que comecei a apreciar muito mais uma boa Kölsch ou Helles do que uma Double IPA ou RIS. Aliás, até me acostumei a sentar em uma brauhaus aqui em Colônia e perceber que a conta fechou com uns 40 copos consumidos em 4 pessoas.

Concluindo, uma das coisas mais importantes que aprendi aqui é que a cerveja é um meio de aproximar as pessoas, precisa ser fácil de beber em grande quantidade e não precisa perder o sabor para isso.

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