Nossa, nunca imaginei que fosse tão difícil começar a escrever no All Beers como colaborador. Não porque falte assunto e não porque o Raphael tenha sido difícil de convencer a me aceitar como colaborador (na verdade foi super tranquilo e o que me fez muito feliz). O difícil é saber como começar. Como me juntar a um time com tanta bagagem cervejeira e jornalística. Talvez o melhor seja começar me apresentando.
Sou cervejeiro caseiro desde 2011, bebedor de cervejas desde 1997 quando tomei minhas primeiras Weizens na companhia do meu pai (aliás, segundo ele eu nasci já bebedor de cerveja) e engenheiro mecânico por formação (e ocupação). Mas até aí tem muita gente com um histórico parecido com o meu por aí. Então o que eu posso agregar a quem lê o All Beers?
Como moro em Colônia na Alemanha desde março de 2015 e nos últimos anos temos ido a vários festivais, eventos cervejeiros, visitado várias cidades e cervejarias no Noroeste da Europa, talvez eu pudesse contar aqui algumas histórias (e eu adoro contar histórias) dessas experiências e dar um pouco da minha visão do mercado de cerveja por aqui. Não sou jornalista, então não esperem nada muito correto do ponto de vista de redação (e gramática) e imparcial e sim muita opinião pessoal.
Primeiro assunto que me veio a cabeça foram os 3 festivais que fomos em Abril e Maio de 2018. Festivais bastante diferentes em conceito, tipo de cervejas e público. Foram eles: Leuven Innovation Beer Festival, Gueuze & Kriek Festival of the Pajottenland (A.K.A. Nacht van de Grote Dorst) e o MBCC (este será no próximo post).
Aconteceu em Leuven na Bélgica nos dias 14 e 15 de abril o 4º Leuven Innovation Beer Festival organizado pela Brouwerij Hof Ten Dormaal. O festival fez parte de 3 finais de semanas seguidos de eventos em Leuven, incluindo o Foods and Hops Festival (21 e 22) e o Zythos (28 e 29).
O Leuven Innovation Beer Festival é um festival pequeno, com 17 cervejarias participando (a Hof Ten Dormaal + 16 convidadas pelo organizador) com foco em inovação. O festival acontece no salão de eventos De Hoorn que começou sua vida como sede da Cervejaria De Hoorn em 1923 e onde foi produzida e consumida pela primeira vez a cerveja Stella Artois. O prédio estava abandonado a várias décadas e em 2007 foi convertido em local de eventos por empresários locais, abrindo novamente em 2012. Ou seja, o festival combina história e tradição no local que é realizado e com inovação das cervejarias independentes convidadas.
Predominavam cervejarias belgas e holandesas, mas também haviam cervejarias da Espanha, Polônia, UK, USA, Rússia, Alemanha, etc. Cada uma com uma proposta diferente, mas todas pequenas e independentes. Com tanta diversidade fica difícil traçar uma tendência, mas encontrei muitas cervejas azedas, seja de fermentação espontânea, mista ou lática, cervejas envelhecidas em barris de madeira, estilos pouco comuns e ingredientes pouco comuns (flores, ervas, frutas, etc). Não vi nenhuma Hazy IPAs ou Berliner Weisse.
Das cervejas que tomamos, duas chamaram mais atenção. Uma da Nevel Artisan, uma kettle sour Grisette e outra da 't Hofbrouwerijke, uma Imperial Porter com adição de cerejas - levemente azeda. Além de tomar as cervejas, pude esclarecer muita coisa sobre o estilo Grisette (pouco conhecido até na Bélgica) e pegar umas dicas de como produzi-lo, além de conhecer o Jef, dono da 't Hofbrouwerijke, que me valeu uma experiência muito legal um mês depois.
Quase duas semanas depois fomos a Iteerbeek (Dilbeek), nos arredores de Bruxelas no vale do rio Senne e centro da produção de Lambic na Bélgica, para o 8º Gueuze & Kriek Festival of the Pajottenland. O festival é organizado a cada 2 anos pela The Gueuze Society (Het Geuzegenootschap) e acontece em uma área aberta no centro da vila somente na sexta-feira a noite. Não é cobrada entrada para o festival, mas no local são vendidos copos de degustação (100ml) e fichas para comprar as cervejas (1,50 Euros por ficha). O preço das cervejas oferecidas (draft ou em garrafas de 375ml ou 750ml) varia muito. Por exemplo uma garrafa de 375ml de Lindemann’s Faro custava 2 fichas enquanto uma de Cantillon Gueuze custava algo em torno de 5 fichas. Aqui a quantidade de cervejas diferentes que degustamos foi pequena sendo difícil eleger uma preferida.
Neste dia encontramos um grupo de ingleses, um dos quais já havíamos conhecido no Moeder Lambic em um evento da Gueuzerie Tilquin, os quais compartilhamos algumas garrafas e demos boas risadas. Mais tarde conhecemos um grupo de brasileiros que moram na Holanda, compartilhamos mais algumas garrafas, experiências e risadas.
As cervejarias presentes no festival eram: Boon, Cantillon, De Oude Cam, De Troch, Den Herberg, 3 Fonteinen, Girardin, Hanssens, Mort Subite, Lambiek Fabriek, Lindemans, Oud Beersel, Tilquin e Timmermans.
Ou seja, se quiser programar uma viagem à Bélgica para tomar cerveja e ir em bons festivais, o mês de abril é uma ótima sugestão. Só fique de olho nos sites dos festivais pois eles podem mudar de data de ano para ano.