A Cervejaria Augustinus, de São Paulo, lança na próxima sexta-feira seu primeiro rótulo, a Ka'Kau, produzida dentro da cervejaria Dádiva. Mas eles não surgiram agora no mercado cervejeiro, já faz um tempo que o nome e os rótulos caseiros deles circulam pelo "underground cervejeiro", entre os beer geeks de plantão. Foi assim que eles construiram aos poucos o nome Augustinus. Eu mesmo lembro de ter provado uma Black Mamba no Brewdog Bar São Paulo, e isso já faz um tempo.
Fiquem de olho neles!
Exatamente por isso, o All Beers conversou com os dois sócios da Augustinus, Gabriel Cunha e Leonardo Indini (foto abaixo) para entender os primeiros passos comerciais da cervejaria cigana.
Gabriel Cunha e Leonardo Indini
All Beers - Como e quando surgiu a ideia de criar uma cervejaria?
Cervejaria Augustinus - A ideia de fazer cerveja veio como um hobby. Surgiu quando eu (Leonardo) e dois amigos (Flavio Dechen e Diogo Pantaleão) bebíamos cerveja em uma unidade do Mr. Beer na Vila Olímpia. O Diogo deu ideia de fazermos a nossa própria cerveja e na mesma semana nos matriculamos no curso básico do Sinnatrah. Nesse período, gostávamos muito de cerveja belga, double IPAS e cervejas com alto teor alcoólico. Tanto que nossa primeira receita caseira foi uma dubbel que não deu nada certo. Não desanimamos, continuamos estudando bastante e tentando aprimorar os nossos processos. Começamos brassando clones de cervejas famosas e, depois, nossas próprias ideias. Após um tempo, o Diogo parou de brassar com a gente e, depois de alguns anos, o Flávio também (mas ele segue criando nossas artes muito bem). Nesse momento, chamei o Gabriel Cunha para me ajudar com as brassagens e começamos a ver que havia demanda, nossas cervejas estavam aos poucos ganhando fãs. Desde então, começamos a focar em deixar o negócio mais sério, sair das panelas e ir para a fábrica.
Cervejaria Augustinus - O nome veio do santo padroeiro da cerveja, Santo Agostinho. Optamos por usar o nome original em latim porque soava melhor. Então, ficou Cervejaria Augustinus.
All Beers - Mesmo caminhando por fora, a Augustinus já estava fazendo barulho com ótimas colaborativas no mercado nacional, como Dead in the Abyss (5Elementos) e Apfelstrudel (Trilha). Como surgiram essas colaborativas, já que vocês ainda não era comercialmente encontrados nos pontos de venda? A Black Mamba foi parte importante neste processo?
Cervejaria Augustinus - Definitivamente tanto a Black Mamba como a Dead by Dawn ajudaram bastante nisso. Desde o começo, foram os dois rótulos que mais chamaram a atenção das pessoas que provavam nossas cervejas. A nossa primeira colaborativa (Dead in the Abyss) surgiu em um bottleshare que os sócios da 5 Elementos estavam presentes. Lá eles experimentaram pela primeira vez a Black Mamba e a Dead by Dawn e ficaram muito impressionados. Foi então que recebemos o convite para fazer uma cerveja com eles em Fortaleza. A ideia foi juntar a imperial stout mais tradicional da 5E, a Abyssal, com a nossa Dead by Dawn, para criarmos algo extremo e pouco explorado no país.
As duas colaborativas foram favorecidas pelo nosso aumento de visibilidade. O pessoal da Trilha e da 5 Elementos sabiam que estávamos fazendo cervejas boas, tínhamos público e demanda reprimida. Por isso, nós agradecemos demais as duas cervejarias pela confiança. Afinal, ainda éramos caseiros, sem nenhum produto em pontos de venda e, mesmo assim, eles toparam trabalhar conosco e nos ajudar nessa primeira etapa de profissionalização. Somos muito gratos por esse apoio e pela oportunidade que ambos nos deram. Podemos adiantar que tem mais colaborativas vindo. Aguardem surpresas!
All Beers - Fale um pouco sobre a Dead by Dawn com 21% de teor alcoólico. Vocês acham viável e provável o lançamento dela de forma comercial?
Cervejaria Augustinus - A Dead by Dawn surgiu nas panelas como um experimento que deu certo. A cerveja é uma imperial stout com teor alcoólico de aproximadamente 20% (varia de lote para lote, devido às suas características de fermentação) que leva café envelhecido em barricas de Bourbon do Franck's Ultra Coffee, nibs de cacau e baunilha.
A viabilidade industrial da cerveja é algo que ainda estamos estudando junto com a equipe da Dádiva. Querer nós queremos, mas precisamos checar os detalhes de como dimensionar isso, visto que a escalada do teor alcoólico é a parte mais trabalhosa - e cara - do processo. Podemos adiantar, no entanto, que a chance dela sair ainda esse ano em um lote sazonal é grande.
All Beers - A ideia de vocês é continuar seguindo essa linha de rótulos extremos, com alta graduação alcoólica e focada nos beer geeks?
Cervejaria Augustinus - A ideia é sempre entregar um produto de alta qualidade, que cumpre o prometido no rótulo. Esse é o nosso maior objetivo. Em alguns casos, esse produto teve sua inspiração em alguma cerveja que está com hype no mundo dos beergeeks ou é algum clássico. Um exemplo disso é a Black Mamba. Ela foi inspirada em imperial stouts envelhecidas em barris de bourbon, como a Founders Kentucky Breakfast Stout (KBS), e na escola belga, pois leva açúcar queimado na sua composição como a Black Albert (De Struise Brouwers).
All Beers - Fale um pouco sobre os primeiros passos da Augustinos nos pontos de venda e da parceria com a Dádiva. Qual será o primeiro rótulo? Ele já existia? A arte do rótulo será mantida?
Cervejaria Augustinus - Nossa produção e a distribuição estão aos cuidados da Dádiva (Cervejaria e Distribuidora). Vínhamos conversando há alguns meses e a proposta deles foi muito interessante para nós, que precisamos conhecer o funcionamento do mercado nacional.
O nosso primeiro rótulo profissional foi rebatizado como Ka'Kau, nome maia do cacaueiro, pois é uma imperial stout focada em notas de chocolate. A cerveja tem 11% ABV e foi maturada com muito cacau e baunilha. É uma releitura de uma receita caseira nossa chamada Wasted Wonka. Esse nome era adorado por nós e nossos amigos, porém sabíamos ser inviável comercialmente devido ao nome Wonka ser propriedade da Disney.