01 junho, 2011

Cerveja, uma boa companheira de mesa

Para azar do sempre clássico vinho, a cerveja conquista cada vez mais espaço como acompanhamento de refeições no mundo todo.

Deixando de lado os abstêmios e aqueles capazes de encarar bebidas alcoólicas destiladas de alto grau, a maioria das pessoas escolhe uma opção fermentada para acompanhar uma refeição: vinho, cerveja, cidra... Normalmente, uma das duas primeiras, embora a cidra combine perfeitamente com alguns pratos.

Portanto, vinho ou cerveja? Um cidadão do norte do Mediterrâneo - lembrando que no sul, em países mais ou menos islâmicos, não há lugar para o álcool - preferirá quase sempre a bebida emblemática desse mar, dessa cultura, dessa gastronomia: o vinho. Um anglo-saxão, um centro-europeu, um escandinavo, talvez prefira a cerveja. Ambas as bebidas têm seu lugar à mesa no mundo todo.

O europeu do Sul demorou a aceitar a cerveja: era coisa de alemães, belgas. Os autores espanhóis do século de Ouro, como Lope e Cervantes, ecoaram o desgosto dos soldados espanhóis em Flandres pela cerveja e a falta que sentiam dos vinhos da terra natal. Foi o imperador Carlos, acostumado com a bebida em sua juventude, quem estimulou a elaboração da cerveja na Espanha.

Hoje, o espanhol bebe mais cerveja que vinho. Mas, em geral, segue sem levá-la muito a sério. Bebe cerveja bem gelada, para acabar com a sede. Ela é vista mais como um refresco que como uma bebida alcoólica capaz de ocupar um lugar na mesa, na hora da refeição. Estão enganados, é claro.

Alguns pratos não combinam bem com vinho, mas são melhores desfrutados com a cerveja. Pensemos em aspargos: não há vinho que ajude... Mas podemos enfrentar sua amargura natural - falamos de aspargos brancos, em temporada primaveril, ou seja, frescos - com uma cerveja tipo lager ou pilsen.

Qualquer prato com vinagre cai melhor com cerveja: o vinagre, não esqueçamos, é como o "cadáver" do vinho, que ao morrer transforma seu álcool etílico em ácido acético. Ninguém fica à vontade com um cadáver, menos ainda com a antecipação do próprio.

Portanto não há vinho que combine com uma salada - na realidade, com as saladas mais normais nada combina melhor que a água. Com a única exceção, talvez, de um bom branco fermentado em barril. Mas, certamente, uma cerveja mais encorpada será um acompanhamento mais adequado.

A cerveja mais comum, a lager, é muito boa companheira de mariscos, e perfeita para escoltar alguma dessas maravilhosas conservas de frutos do mar: mexilhões em escabeche, berbigões, sardinhas... Mas, sobretudo, uns bons lombos de anchova em azeite de oliva; é uma combinação perfeita, que já agradava ao já citado imperador Carlos.

Para a cerveja mais encorpada, uma boa stout escura, tipo Guinness, sugiro alternativas bem diferentes: é ideal com ostras em escabeche, velha receita galega praticada agora por qualquer cozinheiro.

E não há nada como essa mesma cerveja para solenizar o "segundo turno" de um rosbife frio, em fatias mais finas, com conservas e mostardas. O prato pede essa cerveja: afinal os dois últimos elementos são também pouco amigos do vinho.

Naturalmente, há mais coisas que combinam melhor com a cerveja do que com o vinho: uma choucroûte garnie ao estilo alsaciano, uma carbonade flamande no mais puro estilo belga, uma mouclade de mexilhões de Rochelle...

Que se outorgue à cerveja a consideração que merece; ela pode ser, e de fato é, uma excelente companheira na mesa. Mas nem ela deve nos levar a esquecer o vinho, nem este a desprezar a cerveja: há lugar para os dois.

Via
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...