17 novembro, 2010

Cerveja Artesanal é capa da revista Viver Brasil de Minas Gerais

Garrafas com formatos longe das tradicionais, novos aromas, sabores e cores. Os apaixonados pela loura gelada continuam fiéis à bebida, mas confessam não resistir a esta tentação que vem conquistando mais e mais mesas de bares, restaurantes e as gôndolas de supermercados: as cervejas artesanais. Em diferentes estilos, estas cervejas especiais produzidas em Minas ganham mercado não só no estado, mas também fora dele. E acompanham um movimento nacional já que a estimativa é de que a venda da bebida, que está em franca expansão, cresça entre 20% e 25% este ano no Brasil.

Minas Gerais já conta com sete microcervejarias estabelecidas na Região Metropolitana de Belo Horizonte e em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, além de outras duas em fase de estruturação em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Em quantidade de empresas, Minas perde somente para Santa Catarina, onde foi iniciada a história da cerveja artesanal no Brasil.

Todas as empresas do segmento no estado são formalizadas e produzem cerca de 500 mil litros de cervejas e chopes especiais por mês, segundo dados do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas). Este volume deverá subir nos próximos anos já que a maioria das empresas pretende investir na expansão de suas marcas e na ampliação de seus mercados em todo o país.

No que se refere à variedade de estilos de cerveja, Minas está na vanguarda. Produz entre 12 e 15 estilos da bebida”, informa o superintendente do Sindbebidas, Cristiano Lamego.

Além da alta qualidade das cervejas artesanais, a renda mais elevada dos brasileiros também se tornou fator preponderante para que os apreciadores da bebida aumentem em todo o país. Este mercado ainda é novo em Minas, tem cerca de cinco anos, embora a Krug Bier tenha lançado seu chope artesanal há mais tempo. A iniciativa abriu caminho para que outros cervejeiros de plantão, que produziam para consumo próprio ou somente para os amigos, começassem a ver o produto como negócio, aliás, excelente negócio, e passassem a produzi-lo em mais quantidade.
A própria Krug Bier é um exemplo. Quando a microcervejaria criou sua cerveja especial, em 1997, inicialmente a produção era tida mais como hobby do que um negócio. “Começamos a ter uma demanda muito grande para que o produto fosse consumido em casa”, conta o diretor presidente da Krug, Marcelo Druzzi.
Em 2008, os sócios resolveram transformar o hobby em negócio, com atitude comercial mais agressiva no mercado de Belo Horizonte.

Número: 500 mil litros de cervejas e chopes especiais são produzidos mensalmente no estado de Minas Gerais.

Um dos sócios da cervejaria, Theo Dimitrius afirma que essa demanda crescente foi resultado de uma estratégia que sempre privilegiou padrão alto de qualidade de sua cerveja. Ele destaca que no decorrer dos últimos anos, a Áustria, marca de cerveja da Krug, conquistou prêmios importantes como os do 1º Concurso de Cerveja Especial do Brasil, em 2000, quando foi escolhida nas categorias claro e escuro, da Feira Internacional de Produtos e Serviços para a Alimentação Fora do Lar (Fispal). “Outros locais lançavam mão de acessórios como shows, danças, boates. Nosso foco sempre foi o produto de excelência”, diz Theo. No próximo ano, a Krug vai iniciar a distribuição em território nacional, de olho nos mercados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Brasília, Curitiba e Porto Alegre.

Theo Dimitrius: foco sempre na excelência do produto

Os sócios José Felipe Carneiro e Tiago Carneiro, da Cervejaria Wals, também não imaginavam o boom do mercado. Na época em que fundaram sua empresa, em 1999, o segmento dessas bebidas correspondia a apenas 2% da produção.
Esperava uma ascensão, mas não tão rápida”, diz José Felipe, que atualmente vende os produtos de sua marca, em estilo belga, para Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e região Sul do país.
No próximo ano, quando a perspectiva da empresa é lançar uma cerveja com o tradicional método champenoise, o projeto é ingressar também nas regiões Norte e Nordeste.

O crescimento da demanda por consumo de cerveja artesanal tem impulsionado mudanças como a que deve ocorrer no próximo ano na Cervejaria Falke Bier, que espera dobrar a produção mensal e chegar a 20 mil litros. Tudo para atender um crescimento que deve chegar a 40%. A previsão, em 2011, é que a Falke lance bebidas no estilo tcheco bohemian pilsener, e da Estrada Real Weiss Bier, que é de trigo.
O proprietário da cervejaria, Marco Antônio Falcone, afirma que a empresa tem, também, um pré-acordo com as italianas Baladin e Birra Del Borgo, para a fabricação da receita deles na Falke e vice-versa. “As cervejas serão lançadas com rótulos conjuntos, com o apoio do movimento Slow Food Internacional”, comemora Falcone.

Outra marca que pretende apostar em diversidade para seus clientes é a Backer Cervejaria, que lança, no próximo ano, mais cinco estilos da bebida. “Os clientes aumentam a cada dia, principalmente quando conhecem os novos aromas e sabores”, observa a diretora de marketing da Backer Cervejaria, Ana Paula Lebbos.

Perspectivas com lançamentos de novos produtos também cercam os irmãos Augusto Viana Figueiredo e João Paulo Figueiredo, donos da Cervejaria Artesamalt, em Sete Lagoas. Atualmente, eles produzem chopes pilsen, black e pale ale e a perspectiva é que, a partir de 2011, façam sua própria cerveja. O diferencial são ingredientes importados e a utilização de água mineral retirada diretamente de uma fonte próxima à fazenda do Pinheiro, em Sete Lagoas, onde é produzida. “Vamos também ampliar nossos pontos de venda”, aposta Augusto, que deseja consolidar a marca em Minas para depois partir para distribuição em todo o território nacional.

Toda essa expansão e evolução levam anos de estudos e estratégias, e exigem grande elaboração dos mestres cervejeiros. Em média, as cervejas artesanais levam de um mês e meio a quatro meses para ficarem prontas. “Esse tipo de bebida é um trabalho artístico e não para consumo em grande escala. Queremos manter o quesito para os apreciadores da cultura cervejeira”, destaca o mestre cervejeiro da Cervejaria Wals, José Felipe. Para ele, o consumidor brasileiro está se adaptando, com a cerveja artesanal, a um novo modo de consumir a bebida. “Ele está percebendo que a cerveja mais gostosa é a que tem aroma e sabor e que pode harmonizar com um prato”, afirma.

Especialistas em cerveja artesanal, caso do gerente-geral da Royal Empório, Frederico Rubinger, concordam que a expansão no mercado tem a ver com a sofisticação do paladar do consumidor, que cada vez mais tem optado por uma cerveja diferenciada, de boa qualidade. “E quanto mais esse público vai conhecendo essas cervejas, mais ele vai se tornando exigente e fortalecendo esse mercado”, garante.

Thiago Correia: produção de 40 litros por vez a cada dois meses

O baixista Thiago Carvalho Correia, 30, integra o time que de consumidor virou apaixonado e conhecedor da cerveja artesanal. O interesse nasceu há dois anos, quando o músico fez uma viagem à Bélgica e passou dois meses apreciando algumas das melhores cervejas artesanais do mundo. “Durante esse tempo, tive contato com vários produtores locais e aí comecei a ler sobre o assunto”, diz.
O interesse virou paixão e a paixão transformou-se na CruzAlta. “É um hobby extremamente prazeroso, mas trabalhoso. Por isso a cerveja é produzida a cada dois meses e não passa de 40 litros por vez”, diz.

Confraria feminina: mestre-cervejeiro para orientar na criação de bebida marcante

E o que dizer das dez integrantes da Confraria Feminina de Cerveja (Confece), que têm o trabalho, ou melhor o prazer, mensal de não só degustar cervejas artesanais e especiais como fazer o fichamento das bebidas, em que escrevem sobre a cor, o aroma, com que prato harmonizam, se são intensas, encorpadas, fugazes.
Sim, elas entendem e muito de cerveja artesanal tanto que, como todo bom apreciador, decidiram criar sua própria bebida e colocaram o bem brasileiro nome de Conceição. A criação foi orientada pelo mestre cervejeiro Marco Antônio Falcone. “Nossa cerveja é forte, feminina, mais avermelhada e que não é para ser bebida em grande volume”, avisa a presidente da Confece, a bioquímica Ingrid Paulsen. Se as primeiras levas da Conceição foram em cozinhas alheias, no próximo ano, o passo das cervejeiras é adquirir cozinha própria. “A partir de janeiro estaremos com uma produção mais regular”, avisa Ingrid.

Roberto Michelin: cultura de microcervejarias nos EUA

Há outros apaixonados pela bebida, como o consultor ambiental João Marcelo Horta Mendes, 30, que começou a produzi-la com ingredientes bem brasileiros, como a jabuticaba, folha de laranjeira, rapadura e outros mais sofisticados como especiarias. Por enquanto, é um hobby que consome pelo menos dois finais de semana por mês, mas que deve ficar mais intenso no próximo ano. Mendes está comprando um fermentador com capacidade maior e sua produção deve ser de 180 litros a cada 15 dias.
A cerveja, que já teve vários nomes e agora atende pelo provisório de Peripécia, é tanto para consumo próprio e dos amigos, como também para trocas com outros cervejeiros. Este escambo é prática comum e motivo de orgulho quando a produção é elogiada nas rodas de degustação.

Essa paixão que aguça o crescimento do consumo das cervejas artesanais está também favorecendo a geração de empregos. Apesar de ser ainda um setor pequeno, esse tipo de bebida tem maior valor agregado e acaba gerando mais empregos, proporcionalmente, do que as cervejas convencionais. Apesar de ser um ótimo motivo, este não é o único para as perspectivas de um mercado promissor nos próximos anos. Segundo o presidente do Sindbebidas, Mário Morais Marques, os empresários do segmento são experientes e conhecedores deste mercado. “Além disso, Minas Gerais é o estado que mais investe na produção da cerveja artesanal no Brasil.

Para Marques, o investimento nos próximos anos será nas cervejas artesanais engarrafadas, que têm proporcionado a elevação nas vendas da bebida mineira para outros estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, para o Nordeste e até para o Sul do país, onde há produção e longa tradição do consumo. Até parece contraditório, mas a abertura para a importação de cervejas não interferiu no mercado do produto artesanal.

Pelo contrário. A chegada das estrangeiras aumentou a concorrência, é bem verdade, mas também abriu espaço para os nossos produtos, pois aguçou a vontade do brasileiro em experimentar as cervejas especiais brasileiras”, analisa Marques. E, visando este mercado, as cervejarias mineiras começaram a investir na qualidade e estilos de suas cervejas. E isso tem atraído também os apreciadores de vinho, o que prova que as cervejas artesanais mineiras escolheram a trilha certa para seu caminho de sucesso.

Cervejarias artesanais de Minas Gerais

BACKER CERVEJARIA
Fábrica: Belo Horizonte
Produção mensal: 240 mil litros
Fundação: 1998

A Backer foi fundada para suprir uma demanda da casa noturna Três Lobos. A cerveja levava o nome do estabelecimento. Com o decorrer do tempo os fundadores da empresa perceberam que no mercado brasileiro havia espaço para outros estilos de cerveja que não o pilsen e começaram a fabricá-lo. A Backer criou as cervejas Weiss e a Brown, primeira bebida do gênero com aroma de chocolate, fabricada no Brasil. Hoje, a marca é vendida praticamente em todo o país, sendo a preferida das artesanais em Brasília.

CERVEJARIA FALKE BIER
Fábrica: Belo Horizonte
Produção: em torno de 12 mil litros por mês entre chope e cerveja
Fundação: 2004

A Cervejaria Falke Bier foi criada em 2004, com a produção de três estilos de chope: pilsen, schwarzbier e o Viena Lager, vendido somente na RMBH. Em 2006, começou a produzir a primeira cerveja do estilo tripel fabricada no Brasil. A Falke Bier também produz a cerveja Estrada Real.
Em 2011, a previsão é o lançamento de bebidas no estilo tcheco bohemian pilsener, e da Estrada Real Weiss Bier, que é de trigo. A Falke quer também dobrar a produção e chegar a 20 mil litros de chope e cerveja por mês.

CERVEJARIA ARTESAMALT
Fábrica: Sete Lagoas
Produção mensal: 50 mil litros
Fundação: 2007

A Artesamalt foi fundada em 2007, em Sete Lagoas, pelos irmãos Augusto Viana Figueiredo e João Paulo Figueiredo. Eles produzem chopes pilsen, black e pale ale e distribuem os produtos em todo o estado. A produção de cerveja, sob a marca Artesamalt será iniciada a partir de 2011. A aposta é o desenvoilvimento de uma bebida diferenciada, com sabor especial, que terá ingredientes importados e a utilização de água mineral, retirada diretamente de uma fonte próxima à fazenda do Pinheiro, em Sete Lagoas.

KRUG BIER
Fábrica: Belo Horizonte
Produção mensal: 250 mil litros de cerveja e chope
Fundação: 1997. Foi a primeira microcevejaria de MG no estilo prew pub

Inicialmente, a produção da Krug Bier era tida mais como um hobby do que um negócio propriamente. Hoje, a Krug Bier tem cinco estilos de chope e três de cerveja e conta com 200 pontos de venda de seu chope e as cervejas são negociadas em mais de 800 estabelecimentos. A partir de 2011, deve iniciar distribuição em território nacional, com foco em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Brasília, Curitiba e Porto Alegre estão na mira da cervejaria.

CERVEJARIA WALS
Fábrica: Belo Horizonte
Fundação: 1999

Em 1999, os sócios José Felipe Carneiro e Tiago Carneiro começaram a produzir chope em Belo Horizonte para uma rede de fast food. Em 2008 eles partiram para a produção da cerveja especial Wals Dubbel, bebida conceito, que chegou em garrafa de champanhe, arrolhada. A especialidade da marca são as cervejas estilo belga. Para o fim de 2011 a Wals prevê o lançamento de uma cerveja com o tradicional método champenoise, que é o modo de se fazer o champanhe.

CERVEJARIA TROVENSE
Fábrica: Belo Horizonte
Produção: 18 mil litros por mês
Fundação: 2006

A história da cervejaria Trovense, fundada em 2006, começou há muitos anos, quando o engenheiro naval aposentado Cyllas Rosa da Silva encontrou um texto sobre a produção de cerveja caseira. A produção surgiu como um hobby. Eram produzidos 500 litros de cerveja apenas. Hoje, são 18 mil litros por mês dos chopes ale e pilsen, que são vendidos na Grande Belo Horizonte. Mas a expansão da empresa caminha a passos largos. A Trovense vai trabalhar com três novos produtos, as cervejas especiais nos estilos ESB, light ale e stout.

UBERBRAU MICROCERVEJARIA
Fábrica: Uberlândia
Média de produção mensal: 5 mil a 6 mil litros
Fundação: 2008

O cervejeiro carioca Roberto Michelin, proprietário da Uberbrau Microcervejaria, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, morou por 20 anos nos Estados Unidos, onde se formou e conheceu a cultura de microcervejarias existente no país, desde a década de 1980. Em 2008, abriu sua empresa em Uberlândia. Hoje, a Uberbrau montou um bar em Uberlândia, onde vende suas marcas, e faz quatro tipos de chopes. A empresa distribui seus produtos em Uberaba, Araguari e Catalão (GO).
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