09 maio, 2014

Avelar Jr - Coluna 03: Cervejas Medievais


A loira gelada, que não tem que necessariamente ser loira e nem muito gelada, faz parte da civilização humana desde os primórdios da agricultura.

Quando o homem mudou de caçador e coletor para agricultor, os cereais passaram a ser parte importante de sua fonte de energia. O pão é um produto deste avanço colossal na história da evolução humana. Este alimento milenar, tem nos acompanhado desde então, seja na forma atual que conhecemos, ou na sua forma líquida, mais conhecida como cerveja.

Um dos berços da civilização moderna é a antiga Mesopotâmia, e os moradores desta região são também conhecidos por serem os primeiros a fazerem cerveja e vinho. A  área da antiga Mesopotâmia corresponde atualmente ao Iraque, partes da Síria, Turquia e Irã e, por ironia do destino, o local de nascimento da cerveja e do vinho, tornou-se hoje uma região com grandes restrições ao consumo de bebidas alcoólicas.

A cerveja daquela época, estamos falando de algo em torno de 5000 AC, tem pouquíssimas semelhanças com a que apreciamos hoje. Tanto a cerveja quanto o vinho migraram e se desenvolveram na Europa. As duas bebidas fermentadas mais consumidas do mundo nasceram juntas e se separaram posteriormente. O vinho fez a sua casa e construiu uma reputação em países do centro-sul da Europa, como França e Itália. A cerveja, por sua vez, seguiu o sentido norte, se desenvolvendo em regiões que hoje conhecemos como Grã-Bretanha, Alemanha, Bélgica, entre outras. Esta divisão ocorreu principalmente por causa da agricultura: as uvas se adaptaram melhor ao clima mediterrâneo e os cereais se desenvolveram bem em regiões temperadas

Após vários anos separados, a globalização fez os antigos irmãos se reencontrarem. Hoje a Califórnia, nos Estados Unidos, é conhecida mundialmente não somente pela qualidade dos seus vinhos, mas também por ser o local de renascimento das cervejas artesanais americanas. Alguns outros países, tradicionalmente vinícolas, como a Itália e Espanha, também têm se destacado na fabricação de ótimas cervejas artesanais.

A cerveja que conhecemos hoje (estou me referindo à cerveja de boa qualidade), constitue de malte de cevada, lúpulo, levedura e água, para alguns estilos se utiliza trigo. Estes ingredientes tradicionais passaram a ser utilizados largamente por volta do ano 1000 DC. Antes disto a cerveja ainda era uma bebida experimental, os ingredientes iam se modificando dependendo da região onde era feita.


Com o objetivo de reviver estilos da Idade Média, a Cambridge Brewing Company, nos Estados Unidos, lançou a Heather Ale e a Weekapaug Gruit. Estes dois estilos não utilizam o lúpulo, que dá o sabor amargo típico da cerveja. Ao invés do lúpulo são utilizadas plantas e ervas, como lavanda, calluna, alecrim selvagem, milefólio e myrica.

Estes dois estilos de cerveja eram muito comuns nas ilhas britânicas do norte e tinham a fama de serem estimulantes mentais e até mesmo sexuais. Mulheres grávidas devem manter distância de qualquer  tipo de cerveja, mas com relação a estas duas, a cervejaria alerta de um risco adicional, devido a natureza medicinal de algumas ervas.


Ambas as cervejas são bem diferentes de qualquer estilo que você tenha experimentado, mesmo as pessoas habituadas a apreciarem cervejas artesanais irão se surpreender. 
A Heather Ale tem uma cor dourada, é bem fácil de beber e o frescor de folha selvagem é bem nítido. A Weekapaug Gruit é um pouco mais escura, com um sabor de chá  de ervas e um leve azedume. 

As cervejas artesanais estão sempre inovando e inovar muitas vezes requer uma volta ao passado.  Ao experimentar estes e outros estilos fora do convencional é importante ter em mente, e por que não, um paladar aberto para novos sabores. Weekapaug Gruit e a Heather Ale são mais do que cerveja, estas ales são uma viagem na História.

Cheers
Avelar JR.
Twitter & Instagram @avelarjunior
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