20 maio, 2014

Fernanda Meybom: Espace Chimay – um retiro gastronômico, cervejeiro e cultural – Parte 1

Quando se fala em Chimay, a primeira coisa que eu pensava eram naquelas garrafinhas de rótulo vermelho da Chimay Rouge, rótulo amarelo da Chimay Triple e rótulo azul da Chimay Bleue, uma ao lado da outra, claro. Aliás, os rótulos acabaram de mudar, já viu?


Ao descobrir que o Espace Chimay não era apenas um restaurante para degustar estas 3 cervejas, não tive dúvidas e reservei, antes de viajar para a Bélgica, a minha estadia no Auberge Poteuapré Inn. O  local antigamente abrigava uma escola, mas em 1970 os monges o transformaram em hotel, restaurante, pub, museu e loja da Chimay. 




A diversão por lá começou ao fazer o check-in do hotel no pub mesmo, ao lado das taps,  copos e das garrafas de cerveja.


Logo optei por fazer o Chimay Experience que é a visita ao museu. 
É um espaço pequeno e interativo que conta a história do mosteiro, destacando a construção da cervejaria e o começo de sua produção em outubro de 1862. 

A primeira cerveja produzida, mas que não chegou a ser comercializada, foi uma “Double Bavarian-Style Bock”,  o que sugere uma cerveja de baixa fermentação. Porém, após duas ou três bateladas de teste desta cerveja, os monges decidiram por produzir a Bière Forte, uma cerveja de alta fermentação. Aliás, há uma garrafa desta receita de cerveja que era chamada Hygiènique, produzida entre 1920 e 1940. Esta cerveja era descrita por químicos da época como saudável, altamente nutritiva, livre de aditivos químicos e com ingredientes de alta qualidade. Era normalmente recomendada por médicos para a manutenção de uma vida saudável.


Ainda sobre a história do monastério, durante a 1a Guerra Mundial, os monges tiveram que deixar o mosteiro. A cervejaria não foi destruída, mas sua produção parou e os monges só retornaram a comercializar cervejas um ano após o fim da guerra. Porém, o monastério não saiu ileso à 2a Guerra Mundial, pois o local se tornou base das tropas alemãs. 

Após o fim da guerra, os monges decidiram reconstruir a cervejaria, modernizando-a e também mantendo a tradição que envolve a produção de cervejas trapistas.
Outro destaque, é a preocupação dos monges em produzir a cerveja de maneira sustentável, como por exemplo, o aproveitamento do circuito de água quente da cervejaria em toda a Abadia e a utilização de energia eólica. Além disso, parte das sobras de cereais do processo de fabricação das cervejas é destinada à produção de pães que abastecem tanto o monastério quanto o Auberge Poteuapré.

O grande responsável pela modernização e desenvolvimento das cervejas Chimay foi o Padre Théodore que, em conjunto com o professor e cientista cervejeiro Jean DeClercq, desenvolveu a nova planta industrial e isolou cepas de leveduras que ainda hoje são utilizadas. Na páscoa de 1948, Padre Théodore reeditou uma das primeiras receitas da cervejaria e produziu a Chimay Rouge, ou Red Cap, cerveja de estilo Belgian Dubbel com 7% ABV. Neste mesmo ano, produziu a Spécial Noel, uma Belgian Dark Strong Ale com 9% ABV e, devido ao seu grande sucesso, passou a ser comercializada não apenas no Natal recebendo o nome de Chimay Blueu ou Blue Cap.


Ao final do tour, você é convidado a ir ao restaurante e lá recebe um copo de Chimay Dorée, a cerveja do monge. Trata-se de uma Blond Ale com 4,8% ABV, uma receita da época de construção do mosteiro que era produzida somente para consumo dos monges. Porém, ao longo dos anos, a cerveja passou a ser servida também aos funcionários do monastério, convidados da comunidade local e aos visitantes do Auberge Poteuapré mais recentemente. Devido à grande aceitação da cerveja, a mesma passou a ser distribuída comercialmente, podendo ser encontrada hoje no Brasil.


O próximo passo, foi pedir o menu degustação de queijos e cervejas. Assim como ocorre com as cervejas, os monges tem um papel importante na história dos queijos. No caso dos monges de Scourmont, a produção de queijos para consumo interno começou antes mesmo das cervejas, entre 1857 e 1859. Porém, a comercialização dos queijos iniciou somente em 1876, sendo o Chimay Grand Classique, o primeiro queijo de produção comercial.


Meu pedido foi pelo carrossel composto pelas 4 cervejas, Dorée, Rouge, Triple e Bleue, chamado de The Quadruple; e também pela tábua de 5 queijos, Classique, à la Bière, Grand Cru, Vieux Chimay e Le Poteaupré, chamada de Planche de 5 formages de Chimay.
Ao se deparar com a tábua de queijos e o carrossel de cervejas, pode surgir a dúvida sobre qual queijo harmoniza com qual cerveja. 
Para ajudar na sua decisão, vale olhar o menu, que tem informações interessantes sobre as cervejas, pratos e os queijos, além de dicas de harmonização. Aliás, o menu pode ser acessado no site do Espace Chimay e ainda quando estiver lá, você pode leva-lo para casa também, como um souvenir.

Os queijos são excelentes e realmente é difícil dizer qual deles é o melhor. Porém, um belo destaque é o Chimay à la Bière, que durante sua produção é lavado com cerveja Chimay. É impressionante sentir o aroma de lúpulo na casca firme deste queijo que tem interior cremoso. O lúpulo não fica presente apenas no aroma, mas também no sabor, deixando um gosto um pouco amargo na boca.


A Abadia de Notre Dame de Scourmont fica a cerca de um quilômetro do Auberge Poteuapré, porém não é possível visitar a cervejaria, somente a igreja e o jardim.
Uma opção para chegar até a Abadia é fazer uma caminhada por uma trilha através da floresta em frente ao Espace Chimay e com sorte, ainda aproveitar o pôr do sol que no meu caso, foi uma atração a parte no fim do primeiro dia por lá.


No próximo post, continuo falando sobre Chimay, o hotel, o jantar, a loja e um café da manhã que é um verdadeiro banquete, recheado com produtos da comunidade local e da Abadia.

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Fernanda Meybom - Colaboradora do All Beers
Twitter: @femeybom
Instagram: femeybom
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