13 junho, 2014

Avelar Jr - Coluna 04: Cervejas que contam histórias


O mundo das cervejas artesanais está sempre nos surpreendendo e apresentando interesses que vão além do malte, lúpulo e levedura. Eis três exemplos de cervejas que querem nos mostrar algo mais.


Samuel Adams Third Voyage - Double IPA (8% ABV, 80 IBUs). 

Esta IPA faz uma homenagem ao capitão James Cook, da marinha britânica, de quem, entre os feitos, está o primeiro contato europeu com a costa leste da Austrália e o arquipélago do Havaí. Além  de ter realizado a primeira circunavegação registrada da Nova Zelândia.
Na sua terceira viagem marítima, o capitão Cook saiu da Inglaterra no ano de 1776, passou pela costa da Austrália e seguiu para a região noroeste dos Estados Unidos. Esta viagem foi também a última deste navegador. Ao sair da região, até então chamada Alta Califórnia, o navio parou no Havaí onde a tripulação se envolveu em um conflito com habitantes locais. Capitão Cook e quatro outros membros da tripulação foram assassinados.
Para homenagear esta expedição, a cervejaria Samuel Adams criou a Third Voyage. A receita desta double IPA leva lúpulos Cascade cultivados no Reino Unido, na Austrália e nos Estados Unidos. A intenção é trazer para esta cerveja um pouco das características de cada região, o terroir, como diriam os franceses.


Fisherman’s Tea Party (9% ABV). 

Em dezembro de 1773 alguns habitantes da cidade de Boston invadiram os navios da Companhia Britânica das Índias Orientais e jogaram ao mar um grande carregamento de chá. Este ato foi um protesto contra as altas taxas imposta pelo governo inglês a sua então colônia. Conhecido como Tea Party, ou Festa do Chá, este glorioso ato rebelde impulsionou a Revolução Americana, que anos depois culminou com a independência dos Estados Unidos.

A Cap Ann Brewing resolveu homenagear seus bravos conterrâneos com esta  cerveja feita com três estilos diferentes de chá, que estavam entre os tantos jogados nas águas geladas da Nova Inglaterra.
A Tea Party é uma cerveja do estilo Barleywine e só pode ser apreciada no Brewpub da cervejaria, na cidade de Gloucester (norte de Boston). Eu tive o prazer de fazer esta visita a algumas semanas atrás e já coloquei este passeio no topo da minha lista de recomendações, para quem gostaria de conhecer a região. A cerveja por si só é sensacional. 
Um sabor defumado e uma suavidade bem atípicas para este estilo, mas que casaram muito bem. Nem parece que tem 9% de graduação alcoólica.


Dogfish Head Pagaea (7% ABV, 28 IBUs). 

No final do período Paleozóico e início do período Mesozóico, aproximadamente 300 milhões de anos atrás, o mundo era um super continente de terras contínuas e que foram aos poucos se separando. O nome dado a esta grande extensão é Pangéia, que deriva do grego pan, que quer dizer todo ou inteiro, e gaia, que significa Terra.

Em um mundo cheio de conflitos e mais dividido do que nunca, a Dogfish Head propõe trazer os continentes juntos novamente, mas desta vez através de uma cerveja. Pangea é uma belgian strong ale que possui ingredientes dos quatro cantos do mundo. Encontra-se na sua composição: gengibre da Austrália, água da Antártida, arroz da Ásia, açucar da África, quinoa da América do Sul, levedura da Europa e milho da América do Norte. Pelo menos no que se refere aos seus ingredientes, esta é a mais globalizada de todas as cervejas.
O número elevado de ingredientes pode assustar, mas por incrível que pareça esta cerveja é bem equilibrada. Ela foge um pouco do estilo, o que é normal quando nos referimos às cervejas da Dogfish Head. Classificar os produtos desta excelente cervejaria nunca foi das tarefas mais fáceis.  
A garrafa de 750 ml sugere uma cerveja para unir os continentes e reunir os amigos

Estes pequenos detalhes  dão charme e singularidade a estes produtos. Futuramente voltarei a mostrar mais exemplos deste tipo. Lembre-se sempre de prestar atenção na cerveja que está bebendo. Ela pode ter histórias para contar.
Cheers

***


Avelar JR.
Twitter & Instagram @avelarjunior
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...