20 novembro, 2015

Fernanda Meybom: Coluna 13 - Entrevista com Randy Mosher - Parte 2



Randy Mosher já confirmou presença no Mondial de La Bière que acontece até o dia 22 de novembro na cidade do Rio de Janeiro.
Segue aqui a segunda parte da entrevista com essa queridíssima figura do universo cervejeiro! Para ler a primeira parte, entre aqui.

Quantos livros você já publicou?
Contando os dois livros que lancei este ano, 6 livros. (Disponíveis: Brewer’s Companion, Radical Brewing, Tasting Beer, Mastering Homebrewing e Beer for All Seasons.)

Você mesmo faz o design gráfico em seus livros?
Sim e não. Nos livros Brewer's Companion e Radical Brewing, sim. Com Tasting Beer e Mastering Homebrew, enviei aos editores vários gráficos, além de imagens de rótulos antigos e outras ilustrações e também fotos. Com Mastering (Homebrew), a editora gastou todo o seu orçamento de design antes mesmo de finalizar o livro, então eu tive a permissão para complementar esta parte, com a criação de mais de 250 novas fotos e outros elementos gráficos que deram ao livro muito mais vida. De agora em diante, farei o design completo de todos os meus livros.

Você lançou dois livros no início do ano: Mastering Homebrew e Beer for All Seasons. Você pode falar um pouco sobre o Beer for All Seasons?
O livro é da mesma editora do Tasting Beer que tem sido um livro de grande sucesso até os dias atuais. Por este motivo, a editora buscava um novo projeto para mim. Eles me apresentaram esta ideia a qual pensei que poderia ser divertida e ao mesmo tempo educativa. O Beer for All Seasons é um livro menor, que pode ser um presente ou uma compra despretensiosa na livraria e que de alguma forma, pode servir para as pessoas como uma porta de entrada no mundo da cerveja.

No meu caso, eu realmente gosto de beber cervejas sazonais.  Agora, por exemplo, é época para uma Doppelbock (Nota: Randy vive em Chicago e apesar de ser outono já está bem frio por lá), mas ao mesmo tempo estou ansioso para um clima quente o suficiente para sentar e apreciar uma Maibock, e depois, mais tarde, uma Hefeweizen. O livro descreve alguns dos padrões históricos de cervejas sazonais e as razões por trás de cada uma delas, fazendo uma expedição pelas estações do ano, explorando os estilos de cerveja clássicos de cada época. Isto inclui ainda, relação dos Festivais de Cervejas, Beer Weeks e muitas listas divertidas como: Cervejas para agradar a sua mãe no Dia das Mães; Excelentes cervejas para “cortadores de grama” (cervejas mais leves para o verão); Cervejas para substituir o Champanhe nas festas de Ano Novo; ou ainda, quais cervejas servir para as senhoras do Garden Club em uma visita na sua residência.

Ao longo do livro, você ainda irá encontrar algumas dicas úteis do tipo, Como aproveitar o melhor de um Festival de Cerveja, algumas ideias de Cerveja Caseira para Festas de Casamento  e ainda, Como sobreviver a Oktoberfest.  (risos)
(Nota da editora: Peço desculpas ao leitor, mas a próxima frase eu preferi não traduzi-la, porque achei que realmente ficaria mais divertido deixá-la em inglês mesmo).

The final chapter is a liver-exploding fantasy trip around the world.

O livro é uma longa jornada cervejeira e uma visita ao Brasil é obrigatória ao menos uma vez. Por isso, mencionei uma série de eventos brasileiros de cerveja que são boas opções para incluir nos roteiros de viagem.

Baseado nas cervejas brasileiras que você já degustou você acredita que o Brasil já tenha algo para caracterizá-lo como uma escola cervejeira? Um sabor ou ingrediente que nos identifique comparado com outros países cervejeiros?

Acredito que talvez seja um pouco cedo para dizer, mas uma coisa posso afirmar, o caráter brasileiro de vivacidade e criatividade está sendo refletido nas cervejas que eu já provei. Nos estágios iniciais da cerveja artesanal no Brasil, os cervejeiros buscavam cervejas de estilos germânicos, muitas vezes eram treinados por mestres cervejeiros alemães. Há alguns anos, a cerveja artesanal americana começou a mostrar-se como uma referência ao mercado brasileiro, sendo ainda até hoje, uma forte influência. Eu sempre peço aos cervejeiros que eu conheço para que sigam a sua própria visão e criem algo que pode não ser parecido com nada que já tenhamos visto por aqui. Penso que hoje nós já vemos alguns cervejeiros que seguiram esta ideia.

A Escola Americana tem o uso do lúpulo em suas cervejas como uma forte característica. Você pensa que isto está mudando ou que deveria mudar?
Na minha opinião, isto é apenas parcialmente verdadeiro. O lúpulo esta muito na moda agora, mas cervejeiros artesanais americanos fazem muitos outros tipos diferentes de cervejas e nem todas elas têm o lúpulo como o principal da receita.

O mercado Brasileiro de Cervejas está em franco crescimento, porém temos grandes problemas com impostos. No seu ponto de vista, o que poderíamos fazer para superar nossa principal dificuldade?
O Álcool é regulamentado e tributado em quase todo o mundo, o que por si só já é outra razão pela qual é um negócio desafiador. Em minha opinião, o sistema tributário brasileiro com base no custo de produção é profundamente injusto e desestimula os pequenos produtores, uma vez que dá as grandes cervejeiras uma grande vantagem competitiva. Ter uma garrafa de cerveja artesanal que custa cinco ou dez vezes o preço da cerveja comum no mercado de massa é no mínimo injusto.

Pequenas cervejarias criam muitos postos de trabalho, porque eles são pequenos e com menos equipamentos, ao contrário de uma grande fábrica de cerveja que tem apenas alguns rapazes sentados em uma sala de controle apertando botões. Se você olhar para o número de postos de trabalho por barril, você vai encontrar uma notável diferença entre grandes e pequenos fabricantes de cerveja.

Cervejarias artesanais revitalizam bairros, estimulam a cultura e gastronomia e apoiam as comunidades locais, ou seja, são recursos valiosos e importantes do ponto de vista empresarial. Nos EUA, os pequenos fabricantes de cerveja, na verdade, pagam menos impostos do que os grandes, e há um esforço adicional para que os micro fabricantes de cerveja não paguem nada ou quase nada, enquanto para os de porte médio, que paguem um pouco mais. Mas é claro, que as grandes marcas internacionais estão lutando contra, procurando tirar alguma vantagem para si próprios, ainda que eles não precisem de ajuda alguma do governo para terem sucesso.

Nos EUA, os entusiastas da cerveja estão organizados (acesse: supportyourlocalbrewery.org, um projeto do Brewers Association) e a organização tem sido muito bem sucedida na promoção da legislação para os apaixonados por cerveja. O que é mais uma razão para ter esses grupos bem organizados. Acredito que o Brasil está no bom caminho para isso também.

Cheers,
Fernanda.
*texto de tradução livre.

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